(De 0 a R$ 10k+) O que aprendi com meus Side Projects

Meus projetos paralelos (ou “Side Projects”) têm sido uma grande parte da minha vida como desenvolvedor desde que publiquei o meu primeiro aplicativo na Play Store em fevereiro de 2018. Esse app foi o Gerador de Pessoas, que criava personagens com características como nome, gênero, idade, nacionalidade, profissão, permitindo personalizar esses parâmetros e salvar os resultados.

Na época, o meu objetivo era aprender desenvolvimento Android nativo e, depois de ter dado o pontapé inicial com um ótimo curso online, não vi forma melhor para praticar do que tirar do papel as pequenas ideias que fossem surgindo.

Além de ganhar alguma experiência e ter projetos para colocar no meu portfólio pessoal, confesso que também tinha o desejo de transformar isso numa fonte de renda extra. Hoje, praticamente 3 anos depois e trabalhando com outras tecnologias, os motivos para continuar fazendo side projects se mantiveram pra mim, mas posso dizer que vi esses desejos de fato se concretizarem.

Recentemente vendi dois dos meus projetos e é com muita satisfação que venho trazer neste post os meus aprendizados ao longo do caminho, desde o processo de ideação até a venda de um projeto pessoal.

O primeiro app que me trouxe algum retorno financeiro direto foi o Contador de Moedas e Notas, antes mesmo de vendê-lo. Como o nome sugere, ele permite que o usuário informe a quantidade de cada moeda e nota que possui e calcule o total de dinheiro em questão.

É uma espécie de calculadora voltada especialmente para o propósito de contar dinheiro. Além de poder salvar esses registros com descrição e data, é possível contar outras moedas além do Real (Dólar americano e Euro), e proteger o app dos curiosos com um PIN.

O Contador é um app simples em sua essência, mas isso não o impediu de ter mais de 200.000 downloads, 700 avaliações e mais de 4,5 estrelas na Play Store. A ideia surgiu porque, de tempos em tempos, eu juntava umas moedinhas que o meu pai deixava no meu quarto e ia trocá-las no mercado.

Pra isso, eu precisava saber quanto dinheiro de fato tinha ali, e sempre realizei esse cálculo no papel. Foi aí que acabei criando um app pra fazer isso. (Quem cunhou o termo “Efeito Borboleta” certamente ficaria feliz em ver como essas moedinhas modificaram toda a minha trajetória de formas inimagináveis haha.)

Antes de começar a desenvolver, dei uma pesquisada na Play Store para ver se já existia algo parecido e até havia apps semelhantes, porém todos com uma interface (na minha avaliação) muito precária e pouco funcionais. Então enxerguei a oportunidade de fazer aquilo de um jeito diferente, que oferecesse uma melhor experiência pro usuário.

Comecei simples, desenvolvi apenas o necessário, e não muito tempo depois de lançar comecei a monetizá-lo. Considerando o escopo e o público-alvo do aplicativo, entendi que a melhor forma de fazer isso seria através de anúncios.

Para isso, utilizei o AdMob, que é uma plataforma da própria Google para veiculação de anúncios em dispositivos móveis. A integração dele com os apps é bem facilitada e a documentação é clara, então não teve muito segredo. No primeiro mês ganhei cerca de R$ 55 e, em todo o período de monetização, o máximo que consegui num mês com anúncios foi algo próximo de R$ 240.

Na segunda metade de 2020, adicionei a então recém-lançada nota de R$ 200 ao app e publiquei uma versão web simplificada do app. Até que, em fevereiro de 2021, quase três anos desde o lançamento do Contador, decidi vendê-lo, ideia que não tinha levado muito para frente em nenhum momento até então. Descobri algumas plataformas onde as pessoas costumam anunciar seus side projects à venda e compradores costumam pesquisar: IndieMaker e SideProjectors. (P.S. Nada do que vou falar aqui é #publi)

O IndieMaker oferece uma boa experiência de publicação do anúncio e não cobra nada para que você anuncie um projeto. No entanto, há uma taxa para “desbloquear” o anúncio e visualizar/aceitar as ofertas, que você paga apenas uma vez por anúncio — taxa essa que varia de $9 a $250 dólares*, dependendo da faixa de preço em que você estiver anunciando.

É um aspecto importante a se considerar na hora de escolher o valor de venda, já que essa “comissão” da plataforma pode chegar a uns 10% do valor pedido. É importante notar que eles também cobram uma taxa de sucesso dos compradores (sim, lucram de todos os lados possíveis haha). *Daqui pra frente, quando eu usar só o cifrão, entenda “dólares”

Vendendo pelo IndieMaker, você é redirecionado a uma outra plataforma para fechar o negócio assim que aceita a oferta de algum comprador, a Escrow.com, que vou explicar como funciona mais pra frente.

Já o SideProjectors é uma plataforma mais “aberta”. A experiência de publicação neste site é semelhante à do concorrente, com a diferença de que o SideProjectors é totalmente gratuito, tanto para quem vende quanto para quem compra. Eles permitem que os usuários possam, além de comprar/vender, buscar co-fundadores/colaboradores para seus projetos, ou simplesmente mostrar o seu projeto (“showcase”) para receber feedback e validação. No entanto, a parte da venda em si não faz parte da plataforma e deve ser combinada à parte.

Anunciei o Contador em ambas as plataformas (na busca por um comprador, quanto mais exposição/alcance, melhor) e caprichei na descrição do anúncio (dá uma olhada aqui). Deixei claro como o app funciona, o que está incluso na venda, como ele é monetizado e quais funcionalidades podem ser implementadas para avançar o projeto.

Uma descrição bem escrita, organizada e sincera chama a atenção dos(as) potenciais compradores(as) e acredito que isso fez a diferença. Também não prometi coisas que o app não poderia entregar, como rendimento futuro X ou crescimento Y. Se for possível, ajude o comprador a enxergar o potencial do projeto, mas não exagere nas promessas nem invente coisas. O projeto é o que é, no momento da venda.

A pergunta que não quer calar é: por quanto anunciar um projeto? Queria ter uma resposta simples e genérica para essa questão. Inclusive, tentei encontrar, e na época dei uma pesquisada por algo como “quanto posso cobrar pelo meu SaaS?”. Vi gente falando para ser um múltiplo entre 3 e 4 vezes o valor do rendimento anual (últimos 12 meses) do negócio (se ele tiver algum rendimento, né). E esse múltiplo poderia variar de acordo com a taxa de crescimento, taxa de rotatividade, escala… Enfim, uma sopa de letrinhas.

No meu ver, de modo geral, essa “fórmula” pode funcionar pra projetos de pequeno/médio porte que tenham um rendimento líquido mensal relevante. Mas, no caso de grandes empresas ou de pequenos projetos pessoais que tenham pouco ou nenhum lucro, isto é, nos extremos da escala, esse cálculo pode não fazer muito sentido.

No caso do Contador, especificamente, o app teve um rendimento anual de $360, então anunciei primeiramente por $999 (que em relação ao rendimento anual seria um múltiplo de ~2,75x). Alguns dias depois, baixei o preço pedido para $849 (~2,4x), valor que parecia fazer mais sentido. Spoiler: no fim das contas, aceitei uma oferta de $630, algo equivalente a 1,75x o rendimento anual do app.

Quanto ao tempo necessário desde o anúncio até a venda, acredito que depende do porte do negócio, do valor pedido vs. o quanto ele “realmente” vale, e um pouquinho do acaso (coisas como a economia, comprador certo na hora certa, etc.). A boa notícia é que essas plataformas atingem pessoas do mundo inteiro, especialmente compradores(as) de países desenvolvidos (por exemplo, eu vendi para uma pessoa dos EUA e outra da Espanha), lugares a partir dos quais faz sentido adquirir algo em Dólar.

Para se ter uma ideia, depois de anunciar o Contador, em menos de uma semana recebi mensagens de 2 compradores interessados lá no SideProjectors. Inclusive, com um deles (que era da Inglaterra), entrei numa chamada de voz (tudo em inglês, surto internacional!) para tirar algumas dúvidas sobre o projeto, mas essa pessoa acabou optando por não prosseguir. O outro ofereceu $500, nada feito.

E, em três semanas desde o anúncio, recebi uma oferta de $540 no IndieMaker (infelizmente bem abaixo do que eu havia pedido). Umas duas semanas depois desta, recebi uma oferta de $630, que daí já ficou mais atraente (cerca de R$ 3.500 na cotação da época), e foi essa que eu acabei aceitando.

Pra ser bem honesto, eu não sabia se isso era o máximo que eu conseguiria (e alguém sabe?). Revendo hoje, imagino que talvez (talvez!) teria conseguido uma oferta um pouco melhor se tivesse aguardado mais umas semanas. Porém não temos como saber, e isso definitivamente faz parte do processo.

Mas sabe o que é mais interessante dessas duas ofertas? As duas vieram do mesmo comprador, só que eu não sabia disso enquanto não tinha desbloqueado o anúncio (coisa que só fiz quando fui aceitar a oferta, porque ninguém merece pagar a taxa de $59 à toa, né?). Então o aprendizado que tirei disso é: as pessoas vão fazer ofertas à vontade, mas nem sempre elas vão corresponder ao valor do seu projeto.

Em termos práticos, com $540 essa pessoa “testou o terreno”. E eu poderia ter aceitado, mas não achei justo. Então, um tempo depois, aumentou em $90 a oferta anterior. Só olhando para os valores, especialmente sem saber que vinham da mesma pessoa, nós acabamos tendo a impressão de que é aquilo que as pessoas estão dispostas a pagar e que o nosso valor está fora da realidade. E às vezes esse é o caso, mas muitas vezes elas só estão pechinchando, então o segredo é manter a calma e avaliar o que faz sentido ou não. Isso é tanto uma escolha de mercado quanto pessoal.

Como aceitei a oferta no IndieMaker, a transação foi automaticamente criada no Escrow.com, que é um serviço de custódia para compra/venda online. O processo funciona assim:

  1. Comprador e vendedor concordam com os termos da transação
  2. Comprador paga o valor acordado para o Escrow, que vai segurar esse dinheiro até tudo ser concluído com sucesso
  3. Vendedor faz a transferência dos recursos para o comprador (ex.: app, domínio, arquivos de design, etc.)
  4. Comprador aprova o recebimento dos recursos
  5. E só então o Escrow paga o vendedor

E eles aceitam diversos tipos de transações, desde mercadorias gerais até veículos. Nas duas vezes em que vendi os meus side projects, contei com o Escrow para fazer a transação com segurança, e pessoalmente não teria coragem de fazer de outra forma. Com esse intermediário, as duas partes são protegidas de possíveis fraudes e podem focar em simplesmente fazer a venda acontecer.

Obviamente, eles não fazem isso de graça, e cobraram uma taxa de serviço de uns 3% sobre o valor, mais uma taxa de uns 3% para processamento do pagamento do comprador (essas taxas variam, no site deles tem uma calculadora). Vale ressaltar que na venda de ambos os projetos essas taxas foram pagas pelo comprador mas, ao iniciar por conta própria uma transação no site, você pode escolher quem vai pagar ou se vai ser 50/50 (sempre combine antes para não haver surpresas!).

Ah, falando em taxas… Tem algumas que eu acho importante levar em conta desde o momento em que você define um valor para o projeto: a taxa única do IndieMaker (considerando que venda por lá) para “desbloquear” o anúncio e poder visualizar/aceitar as ofertas, e uma taxa fixa de $20 que o Escrow.com cobra para fazer transferência internacional dos valores em USD para o Brasil.

E para receber essa transferência aqui é fácil. Usei o RemessaOnline, que eu já estava acostumado a utilizar para receber os pagamentos do AdMob para os anúncios do Contador. O serviço deles é muito bom e eles cobram uma taxa bem em conta.

Depois que vendi o Contador de Moedas e Notas, vi que era possível fazer o mesmo com outros projetos. O segundo foi o Pomozzo, uma plataforma de produtividade baseada na Técnica Pomodoro em que os usuários podem focar nas suas tarefas e acompanhar o seu progresso.

O processo de venda do Pomozzo foi semelhante:

  • Publiquei em mais de um lugar: no IndieMaker, SideProjectors e no AcquireBase (que também é gratuito, descobri ele depois da primeira venda). Também fiquei sabendo do Flippa — eles oferecem um serviço bem premium, mas cobram uma taxa pelo anúncio e uma taxa de sucesso no momento da venda. Como dessa vez eu queria economizar o máximo possível nessas taxas, optei por manter apenas nas outras plataformas.
  • Caprichei na descrição: expliquei o que é a Técnica Pomodoro, como funciona o app, quais tecnologias são utilizadas, quais os custos de manutenção e valores cobrados pelo plano Premium, bem como uma curta apresentação minha e formas de levar o projeto adiante. (Deixei uns prints do anúncio aqui embaixo.)
  • Escolhi um valor que parecia fazer sentido: considerando que é um projeto mais complexo que o Contador, porém ainda não tinha renda recorrente, anunciei por $999.
  • Recebi algumas mensagens e propostas: no IndieMaker, propostas de $500, $600, $860. Também teve uma pessoa que fez uma oferta no preço pedido, mas depois entendeu que a oportunidade não era para ela e retirou a oferta. No SideProjectors, 3 pessoas interessadas enviaram mensagem, das quais uma realmente chegou a fechar negócio.
  • Vendi: para este comprador que me contatou pelo SideProjectors. Ele me explicou as modificações que teriam que ser feitas para que o projeto fizesse sentido para ele e, tendo isso em vista, acertamos o valor de $899 (R$ 4.700) pelo projeto do jeito que estava, e havendo o interesse de me contratar ainda este ano para implementar essas mudanças dentro de um outro orçamento.
  • Tudo correu muito bem: nos comunicamos constantemente por e-mail, e tentei deixar tudo sobre o app e o processo de venda/transferência o mais claro possível. Fizemos a transação pelo Escrow.com e não tive nenhum problema.

Captura de tela do anúncio do Pomozzo no IndieMaker

Captura de tela do anúncio do Pomozzo no IndieMaker

Captura de tela do anúncio do Pomozzo no IndieMaker

Lembra aquela regrinha de multiplicar o rendimento anual por 2, 3, 4…? No caso de um projeto como o Pomozzo, que ainda não tinha renda recorrente, esse cálculo não vai funcionar (literalmente, qualquer coisa vezes zero é igual a zero hahah). Então, nessa hora o que dá pra fazer é levar em conta o tempo que levou para desenvolver (quantas horas x quanto vale a sua hora de trabalho) e o potencial da aplicação (mas não se empolgue, viu).

Escrevendo esse post, descobri uma ferramenta da Flippa que oferece uma estimativa para o valor de mercado de um negócio, baseado em métricas técnicas/financeiras que você informa e comparando com os dados históricos de mais de 250 mil vendas já feitas na plataforma. Fiz a avaliação do Contador e do Pomozzo e em ambos os casos o Flippa os estimou em “$1000 ou menos”, então até que acabei acertando no preço de venda :)

Apesar de que o foco desse post não era a precificação dos projetos em si, esse acaba sendo um tópico importante. O objetivo era compartilhar como foi a experiência de levar esses projetos desde a concepção até a venda, com detalhes e dicas que a gente só descobre fazendo.

Trabalhar nos nossos próprios projetos permite explorar tecnologias, regras de negócio e metodologias diversas, e isso é altamente enriquecedor. Mas, como é de se esperar, sempre exige esforço e paciência, e por isso é bom conhecer as oportunidades que eles podem nos trazer. Bora tirar aquela ideia do papel ou dar uma renovada naquele projetinho que só tá pegando poeira?